quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

NOVO ENDEREÇO: asdonasdarua.com



Queridos, AS DONAS DA RUA ganhou um novo site. Os textos, vídeos,  fotos e matérias ficaram mais fáceis de serem acessados.

 site: asdonasdarua.com

Espero por vocês lá!!  Obrigada e boa leitura!!

Beatriz Grimaldi

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

PRESENTES - A ENTREGA


     Queridos, muito obrigada pelos presentes. Pude fazer uns Kits bem bacanas. Já distribui tudo que recebi para: Merlaine, Bianca, Samira, Ana Maria, Janaina, Larissa, Deolinda, Jacqueline, Joana, Eva, Michele, Rosimeire, Yasmim, Dirce, Carol, Gabriela, Christiane e algumas outras que por diferentes motivos não gostam de dizer seus nomes. 
   Reencontrar algumas moradoras e ser recebida com carinho é pra lá de especial. Foi mesmo muito lindo.
   Para terminar ficam as fotografias e um vídeo com três histórias diferentes. Como disse a Larissa: “Mais um ano se acabando. Vai ver o ano que vem, né? A vida não para. “








E A VIDA QUE NÃO PARA



sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

AINDA NÃO CHEGOU O NATAL

    Eram três que ficaram sem nome. Mais dois. Três crianças e dois adultos. O dela era Gabriela. Embaixo da ponte tinha árvore de Natal, fogareiro, garrafa de água. Tinha colchão também, carrocinha, carrinho de bebê e boneca Suzi. Tinha o bebê. Panela cozinhando arroz. Paraisópolis era a casa, o trabalho a ponte. A pequena quem me contou e a vó tentou jogar palavra por cima, tapar a fala, mas a menina já tinha começado. Os olhares se engancharam. - Tia, tô na escola. - Que escola, menina? - Ele vai pra creche. - Que creche, menina? Umas palavras que não  grudavam nas outras. A vó era brava. - Pro próximo ano, perto de casa, Gabriela falou. A menina escondeu o olhar por trás das pálpebras. - Há quanto tempo tamo aqui? O irmãozinho via as fotos no meu celular, apertava o botão e subia no meu colo. Movimentos e olhares. Mãe, vó, ela e eu. O que era tempo pra ela? - Faz tempo, ela mesma respondia. Eu repetia a pergunta da creche já sabendo que ali tinha um furo que não era o que elas tentavam tapar. A creche era do lado da casa, a escola também. Existem tantos tipos de furo, meu Deus! A pobreza escondendo-se e disfarçando-se de pobreza maior - Será que dá tempo do senhor tapar? É tanto pedido perto do Natal!
    Paraisópolis era a casa, o bairro, o automóvel na porta, a geladeira repleta, a luz, a água, as roupas dentro do armário. Paraisópolis era a viagem de férias, o fim de semana no cinema, o travesseiro, o cobertor. Paraisópolis era muito. A conta no banco, a poupança, a certeza de um 2016 feliz. Era o Rivrotil, o Dormonid, e o Donaren. A menina nem sabia. Tentavam esconder seus tesouros debaixo do colchão furado.
    Eles na curva, em cima o viaduto. Os filhos vinham trabalhar com a mãe, a avó e o avô, que àquela hora estava deitado no colchão, só observava. A carroça em frente não era veículo de trabalho, era armário. Será por que não poderiam ficar os pequenos em casa com a vó enquanto a mãe faxinava, estudava? Vale brincar de sonhar? O terceiro filho ainda mamava, um único mês ele tinha. – Eu queria um barraco, esse era o pedido da mãe. Paraisópolis não cabia ali. Era muito. Uma escola, a creche que estava por vir. O que eu contaria se soubesse que eles já tinham um barraco? Por ali uma garrafa de água, o mamá debaixo da ponte, uma panela de arroz, um carrinho de bebê, três colchões. Tinha rato, frio, chuva de vento. Tinha três bebês, dois deles que já aprenderam a falar, mas que não falassem de um jeito a verdade. Os ruídos dos carros, as garrafas arremessadas e os drogados asseguravam o trabalho dos seis. O que pensaria eu se soubesse que não eram de um todo moradoras de rua? Gabriela perguntava, mas não dizia. Os olhos de Gabriela.
    Faltava coisa. Coisa que é gente. Os três pais: o da pensão que era pouca, pai do menino. O que abandonou a filha. E o do bebê, que morreu atropelado. Sobrava uma vó e um vô no colchão. Um corpo com preguiça com aquele cansaço que se estende. Sobrava filho: um mês, três e cinco anos, essa era a idade. Sobrava idade: Sessenta e sessenta e três eram números dos pais.  E tinha ela, a Gabriela, de vinte e dois.
   A vó me falou que a comida acabou e que tava todo mundo com fome. - O super-mercado é ali do outro lado, depois do viaduto, uma rua ali no meio. Avenida dos Carinás, entrei. Arroz, feijão, carne, farinha, banana, suco, verdura. Eram seis, e aquilo daria para quantas refeições? Bombons e salgadinhos ajudavam o gosto bom na boca das crianças. Eram mais quatro os homens, moradores de rua na frente do super-mercado. Voltei. Dois dias com refeição? O estômago continuaria fazendo parte do corpo.
   De dentro de um carro alguém estendeu o braço e doou quatro pacotes de bolachas. Era uma mulher com olhar assustado. Abriu uma partezinha da janela. De longe o espaço não era neutro. De perto era a Gabriela, seus três filhos e os avôs.






GABRIELA - TRÊS BOCAS

https://youtu.be/umafWckeXcY

PESSOAS - COISAS E COISAS


















Baixo do Viaduto - Ibirapuera
  

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O AMOR


O amor é pedra,
é sono.
É casa fugida. É cacunda. É tiro. É morte planejada.
É sem colo.

É  soro positivo.
É  um dia
e mais outro. 
É flanela no vidro.
É carro riscado.

O amor é farinha.
É vigília em viaduto.
É um troço.
É pacote de erva. É cheiro de álcool.
É a primeira esquina.
É barriga vazia.

É filho abortado
no saco do lixo.
O amor é sem dó.

É um dia e mais outro.
É batida no peito.
Uma,
duas,
até arrebentar.


O amor é pedra, é sono. É casa fugida. É cacunda. É tiro. É morte planejada. É sem colo. É soro positivo. É um dia e mais outro. É flanela no vidro. É carro riscado. O amor é farinha. É vigília em viaduto. É um troço. É pacote de erva. É cheiro de álcool. É a primeira esquina. É barriga vazia. É filho abortado no saco do lixo. O amor é sem dó. É um dia e mais outro. É batida no peito. Uma, duas, até arrebentar.